segunda-feira, 12 de julho de 2010

Cão Sem Dono

Depois de assistir esse filme, revolvi deixar alguns trechos que gostei bastante. Cão Sem Dono é realizado em Porto Alegre, adaptado do primeiro romance de Daniel Galera - Até o dia em que o cão morreu.
De Beto Brant e Renato Ciasca, é um filme intimista, angustiante e momentâneo. Momentâneo porque o espectador deve estar no momento do filme, sincronizado com as sensações que o filme provoca. É necessário degustar e digerir.. Na minha desqualificada opinião, bastante provocante...

Enfim, segue os trechos não originais, mas modificados conforme minha vontade:


"O embrião cansado invade a escuridão da caverna procurando uma saída.
Escuto o eco rebatido nas paredes da carne, refletindo no olho o desespero da solidão.
A preguiça é o sono dos mortos. Minha euforia necessita de calma, e minha calma de euforia. Que se dane o resto do resto, da sobra do que resta. O restante é o que eu quero.
O amor do instante é o instante em que estamos perto da batida perfeita. Os olhos são o inicio do irreal. Meu cigarro tem um tempo de vida e minha vida necessita de um cigarro. O que fazer? O que comer? Será que minha mãe está certa? Definitivamente não! Preciso de um coração que bata descompassado, sem ritmo, sem melodia. Não quero a batida perfeita. Quero o descompasso, me dê uma pista, uma lágrima, mas me dê algo."


E...


"...Naquela suada calmaria de província, chegava alguém da capital. Era como se esse alguém voltasse como Bento Gonçalves do reino dos mortos. E o ex-morto febril abre o portão. Não é a mesma pessoa que por ele saiu na despedida de 2009. – (Ou é a mesma sim. Com as feridas do combate e os pedaços da alma que deixei numa cidade gelada e agora fazem parte de outras almas. Mas o que os sentimentos tiram, os sentimentos dão. Trago comigo a melodia daquelas almas, que agora também é minha. E dentro de mim vem Jane com seu pijama desabotoado. E vem Nina com seu vestido vermelho. E vem Lara com suas mãos molhadas e frias. E vem Elisa com seus grandes olhos negros. E vem até Clarissa a censurar meu gosto pelo interior. Entramos todos nós. Vemos nossa mãe no quintal, à colher de sua parreira as ultimas uvas de março. Ela também nos vê. Dá um grito e corre ao nosso encontro. Estamos todos desesperados para juntar nossos pedaços aos dela, porque ela é a nossa mãe. É o símbolo de tudo que amamos e que na capital nos fez tanta falta).”

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